Educação, política e o Brasil que
não avança
Por que o país que
deu um salto ainda convive com políticos de má qualidade
POR FLÁVIO ARANTES FOTO DIDA SAMPAIO/AGÊNCIA ESTADO
Só os empedernidos se recusam a enxergar que o Brasil deu um
salto sob a administração do PT. Concordo com o jornalista Paulo Nogueira,
editor do Diário do Centro do Mundo. Com Lula, o Brasil poderia ter avançado
muito mais. Apenas não dá para fechar os olhos para a imensa inflexão.
Que ótimo. O desemprego caiu, o salário real aumentou, a pobreza
é bem menor... A lista é imensa. Mas, se o Brasil real é outro, o pais da
realpolitik não acompanha. Basta colocar os olhos em alguns destaques da
imprensa, semana passada.
Roseana Sarney acumula aposentadoria de R$ 20,9 mil do Senado
com salário de governadora, de R$ 15,4 mil. José
Dirceu faz acusações graves contra Luiz Fux, ministro do STF, que silencia. E,
como escreveu Ricardo Noblat, “ao preferir o silêncio em tais
circunstâncias, Fux só reforça a suspeita de que Dirceu disse a verdade".
Mas tanto as acusações de Dirceu, em entrevista à Folha/UOL, quanto o silêncio
de Fux, com exceções, sumiram rápido da mídia. Já as acusações de outro
condenado do mensalão, Marcos Valério, ainda rendem manchetes.
Maluf também está de volta. Desta vez, pelo menos, expondo
entranhas. A Justiça bloqueou mais de R$ 500 milhões da Eucatex, empresa da sua
família, e Jersey, um paraíso fiscal, rejeitou recurso contra repatriar
R$ 55 milhões. Tudo, segundo o Ministério Público, desviado da Prefeitura de
São Paulo. Muito bom. Mas será mesmo que essa novela de enredo ruim vai
terminar com final feliz para o nosso bolso?
Outra. O bilionário Eike Batista, oitavo homem mais rico do
mundo, segundo a Forbes, vê as ações de sua OGX derreterem e a Petrobras acena
com um bote salva-vidas. Christopher Swann, colunista da Reuters Breakingviews, escreveu que Eike é
“grande demais” para o governo deixá-lo quebrar. Então, tá.
A Time deu destaque em sua home na quarta-feira para uma reportagem sobre o Brasil. A revista reforça o que a mídia internacional não cansa de repetir, nossos imensos avanços nos últimos anos e a nova posição do país como um player global. Mas ressalta que a corrupção e a impunidade insistem em colocar em risco a imagem do Brasil da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.
Ninguém precisa concordar com a revista. Ainda que uma das
mais influentes do mundo, a Time não é um oráculo. Mas os poucos fatos
descritos aqui estão aí a validar a reportagem.
Pra mim, tudo é educação. E esta, ainda que tenha avançado,
precisa de muito mais. Para não me alongar, um relatório do Fórum Econômico
Mundial, divulgado semana passada, coloca o Brasil na 132ª posição entre 144
nações quanto à qualidade do ensino de matemática e ciência, duas disciplinas
essenciais. Perdemos para a Etiópia...
Daí a necessidade de uma lei (Ficha Limpa) para impedir os
eleitores de votarem em quem tem currículo sujo. Daí o orgulho dos brasileiros ao
baterem no peito pra dizer que “detestam política”. Para esses, Berthold
Brechet, numa versão livre: “Quando você não gosta de política, quem gosta se
apodera dela”.
Os sarneys, os malufs, os felicianos agradecem.
Os sarneys, os malufs, os felicianos agradecem.
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