domingo, 14 de abril de 2013

Realpolitk


Educação, política e o Brasil que não avança
Por que o país que deu um salto ainda convive com políticos de má qualidade

POR FLÁVIO ARANTES FOTO DIDA SAMPAIO/AGÊNCIA ESTADO

Só os empedernidos se recusam a enxergar que o Brasil deu um salto sob a administração do PT. Concordo com o jornalista Paulo Nogueira, editor do Diário do Centro do Mundo. Com Lula, o Brasil poderia ter avançado muito mais. Apenas não dá para fechar os olhos para a imensa inflexão.

Que ótimo. O desemprego caiu, o salário real aumentou, a pobreza é bem menor... A lista é imensa. Mas, se o Brasil real é outro, o pais da realpolitik não acompanha. Basta colocar os olhos em alguns destaques da imprensa, semana passada.

Roseana Sarney acumula aposentadoria de R$ 20,9 mil do Senado com salário de governadora, de R$ 15,4 mil. José Dirceu faz acusações graves contra Luiz Fux, ministro do STF, que silencia. E, como escreveu Ricardo Noblat, “ao preferir o silêncio em tais circunstâncias, Fux só reforça a suspeita de que Dirceu disse a verdade". Mas tanto as acusações de Dirceu, em entrevista à Folha/UOL, quanto o silêncio de Fux, com exceções, sumiram rápido da mídia. Já as acusações de outro condenado do mensalão, Marcos Valério, ainda rendem manchetes.

Maluf também está de volta. Desta vez, pelo menos, expondo entranhas. A Justiça bloqueou mais de R$ 500 milhões da Eucatex, empresa da sua família, e Jersey, um paraíso fiscal, rejeitou recurso contra repatriar R$ 55 milhões. Tudo, segundo o Ministério Público, desviado da Prefeitura de São Paulo. Muito bom. Mas será mesmo que essa novela de enredo ruim vai terminar com final feliz para o nosso bolso?

Outra. O bilionário Eike Batista, oitavo homem mais rico do mundo, segundo a Forbes, vê as ações de sua OGX derreterem e a Petrobras acena com um bote salva-vidas. Christopher Swann, colunista da Reuters Breakingviews, escreveu que Eike é “grande demais” para o governo deixá-lo quebrar. Então, tá.

A Time deu destaque em sua home na quarta-feira para uma reportagem sobre o Brasil. A revista reforça o que a mídia internacional não cansa de repetir, nossos imensos avanços nos últimos anos e a nova posição do país como um player global. Mas ressalta que a corrupção e a impunidade insistem em colocar em risco a imagem do Brasil da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016.

Ninguém precisa concordar com a revista. Ainda que uma das mais influentes do mundo, a Time não é um oráculo. Mas os poucos fatos descritos aqui estão aí a validar a reportagem.

Pra mim, tudo é educação. E esta, ainda que tenha avançado, precisa de muito mais. Para não me alongar, um relatório do Fórum Econômico Mundial, divulgado semana passada, coloca o Brasil na 132ª posição entre 144 nações quanto à qualidade do ensino de matemática e ciência, duas disciplinas essenciais. Perdemos para a Etiópia...

Daí a necessidade de uma lei (Ficha Limpa) para impedir os eleitores de votarem em quem tem currículo sujo. Daí o orgulho dos brasileiros ao baterem no peito pra dizer que “detestam política”. Para esses, Berthold Brechet, numa versão livre: “Quando você não gosta de política, quem gosta se apodera dela”. 

Os sarneys, os malufs, os felicianos agradecem. 

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