Imagem: Gig.gov.pt
A dentista arde em fogo e o
termômetro quebra
POR FLÁVIO ARANTES
“Infelizmente, mais um jovem”, disse Geraldo Alckmin,
governador de São Paulo, ao saber que o responsável por atear fogo e matar
queimada uma dentista no ABC paulista era um rapaz de 17 anos. O mesmo Alckmin
que quer reduzir a maioridade penal para 16 anos. Uma cortina de fumaça, que
parte da mídia comprou, lançada por ele após outro crime juvenil horrendo: o
assassinato com um tiro na cabeça do universitário Victor Hugo Deppman, na porta de sua
casa em São Paulo, por um adolescente que fez 18 anos dois dias após a execução, em 10 de abril.
Estatísticas e estudos estão aí em abundância para
jogar na nossa cara o aumento desenfreado da violência envolvendo jovens. Relatório
do Cebela (Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos) revela que a taxa de
homicídios entre a população total cresceu 276% de 1980 a 2010; entre os de 15 a 29 anos, 365%.
Outro levantamento do Cebela mostra um
crescimento de 375% no número de mortes por arma de fogo entre jovens até 19
anos de 1980 a 2010. A participação de óbitos de jovens entre o total da
população evoluiu 1440% no mesmo período. Guarde este número: 1440%!
Ao inflamar uma discussão sobre reduzir a maioridade
penal, o que vejo é o mercúrio do termômetro quebrado. Alckmin e quem defende
sua proposta miram a consequência, e não a causa. .
A desestruturação juvenil tem raízes muito mais
profundas. Começa na intimidade das famílias de classe média e alta, com um
número de pais cada vez mais desatentos à formação de seus filhos, passa pela miséria
e pobreza que ainda castigam as famílias da periferia, e chega até as ruas, com
uma polícia despreparada, mal paga e que parece mais preocupada com execuções e
vinganças do que em proteger a população. Um rosário de causas imenso, que não caberia
aqui.
Concordo com Eliane Brum (revista Época) e sua coluna “Pela ampliação da maioridade moral” , reproduzida
aqui ontem. “A realidade mostra que a violência alcança essa proporção porque o
Estado falha – e a sociedade se indigna pouco”.
De novo, a minha cansativa tecla: educação. Não sou sociólogo
e nem entendido do assunto. Mas se o nosso governo deixasse tudo mais para traz
e canalizasse todos os esforços para fazer uma revolução educacional de verdade
no Brasil, em pouco tempo teríamos uma redução significativa de todas as estatísticas,
violência e outras. Aquelas que nos envergonham todos os dias pela manhã na
frente do espelho. Ou deveriam envergonhar.
Até lá, vamos vivendo e convivendo com governantes e jovens cada vez mais mercuriais.
SAIBA MAIS
Outros relatórios e informações no site Mapa da Violência
Nenhum comentário:
Postar um comentário