O outro Steve por trás de Jobs e como a Microsoft
salvou a Apple
POR FLÁVIO ARANTES
“Acredite ou não, Steve Jobs não inventou nada. Ele também
não é engenheiro, um cientista ou mesmo um mago da informática”.
São as primeiras frases de “Steve Jobs: como ele mudou o mundo”.
Pode não trazer novidades para os aficionados pela Apple, revelar algumas poucas
para os que curtem tecnologia, interessar aos que apenas querem conhecer boas
histórias.
Mas, por tudo isso, vale assistir o documentário. Seus curtos
45 minutos mostram como o homem que revolucionou o modo como nos comunicamos e
nos conectamos com o mundo foi um gênio insensível, autoritário, megalomaníaco
e ao mesmo tempo visionário.
O essencial está lá: Jobs foi abandonado pelos pais
biológicos, nunca se interessou pela faculdade, a Apple começou na garagem de
sua casa, sua demissão da própria empresa e seu retorno triunfante para
apresentar ao mundo produtos inovadores.
Mas o que me chamou a atenção no documentário são três
momentos.
O primeiro, curioso, é como surgiu o nome Apple. Aos 21 anos,
Jobs era influenciado pelo movimento hippie: protestos, rock in roll e, lógico,
as drogas que marcaram o fim dos 60 e os primeiros anos da década de 70. Jobs e
seus amigos se reuniam numa fazenda onde um dos principais alimentos para
saciar a fome depois de um baseado era ... Maçã. Daí a logo e o nome Apple.
Também uma homenagem a Isaac Newton, que descobriu a gravidade quando uma delas
caiu na sua cabeça. A mordida, para diferenciá-la de um tomate.
O segundo ponto é o outro Steve, Wozniak. Espécie de
“Professor Pardal” desde a infância, foi quem apresentou ao amigo Jobs sua
invenção que daria início à Apple, o primeiro protótipo de um PC, o Apple 1,
com teclado e conexão ao monitor da TV. O ano, 1976, quando computadores eram
máquinas imensas que ocupavam salas inteiras, sem teclados nem monitores. O
gênio comercial de Jobs logo vendeu 100 Apple 1 para uma das primeiras lojas
instaladas no Vale do Silício. Mesmo antes de produzir uma só máquina. Só a
partir do protótipo.
Em poucos meses, o Apple 1 já havia conquistado cientistas de
informática, seu público-alvo. Afinal, mesmo que revolucionário, exigia
conhecimentos de informática para funcionar à base do “faça você mesmo”.
Mas Jobs não queria se limitar aos entendidos de informática.
Queria um PC para todos. Wozniak então refinou sua invenção e nasceu o Apple 2,
um único “bug” que ele se orgulha de dizer que não sabe como fez, ainda que em
uma semana.
O Apple 2, com monitor e teclado, vinha num console de
plástico que bastava tirar da caixa, ligar na tomada e começar a usar. Um
sucesso vertiginoso. Vendia milhares de unidades por mês, o que, para a época,
era um fenômeno. No final dos anos 80, a
Apple chegou a Wall Street. No primeiro dia de negociação, as ações subiram 32%
e transformaram os dois Steve em milionários em menos de 24 horas. Rico,
Wozniak deixou a Apple para se dedicar a suas paixões: invenções e organização
de consertos de música folk.
A IBM, a grande corporação do mundo da informática, lançou
seu PC, uma cópia mal feita do Apple 2. Mas como as três letras eram sinônimo
de tradição e confiança, logo as vendas do seu PC ultrapassaram as do Apple 2.
Jobs então decidiu contratar um diretor-executivo. Foi buscar John Sculy da
Pepsi, o mesmo que o demitiria da empresa anos depois. Mas antes de deixar a
Apple, Jobs estava decidido a “mudar o mundo” com um novo PC que superaria o
Apple 2: o Macintosh, com drive, softwares, janelas e ícones na tela e outra
grande invenção: o mouse. Um fenômeno de vendas, mesmo a US$ 2.500.
Com um computador que estava uma década à frente de seu tempo
e que colocou a aventura de PC da IBM no limbo, Jobs acreditava estar no topo
do mundo. E como sucesso às vezes cega, não prestou muita atenção a um nome:
Bill Gates e sua Microsoft. Em 1984, quando a Apple explodiu, era apenas uma
pequena empresa que produzia aplicativos e softwares, inclusive para Jobs.
Não levou muito tempo para Gates, impressionado com o
Macintosh, decifrá-lo e desenvolver seu próprio sistema operacional. Em poucos
anos, o Windows já estava em 97% dos PCs do mundo e mergulhou a Apple numa
crise.
É quando Jobs é demitido, em 1985. Até sua volta, a empresa viveu
seu inferno: trocas constantes na direção até suas ações despencarem a 3% do
valor mais alto já alcançado. Jobs volta em 1992, contratado pelo novo CEO
Gilbert Emelio.
Aqui, o terceiro momento. No anúncio de seu retorno, a grande
surpresa: uma parceria com a Microsoft, que chocou o auditório. Um acordo
secreto entre Jobs e Gates encerrou a batalha judicial que os dois travavam, a
Microsoft passou a fornecer softwares para a Apple e fez um cheque gordo de US$
150 milhões para a corporação da maçã.
O resto é história. A Apple se reergueu com os iMac, iPpod, iTunes,
iPhone e iPad. Jobs faleceu em 2011, vítima de câncer. Em 2005, recebeu de
Stanford o título de Doutor honoris causa. Em seu discurso para os estudantes,
dá seu recado, e que de certa forma define ele mesmo.
“A morte é a melhor invenção da vida, porque substitui o
velho pelo novo. Seu tempo é limitado. Então, não desperdice vivendo a vida de
outra pessoa. Tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição. Tenha
vontade. Seja extravagante.”
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